sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

"isso tem importância?" ou "mas eu não fiz nada!"


Como reflexão do ano que termina aqui e para resumir a lista de "promessas" para o ano novo uso o filme dos Coen como mote. "Um homem sério" é o filme dos irmãos que narra a vida e questionamentos de um físico. Uma comédia inteligente, com questionamentos que de início parecem corriqueiros, meio sem importância, mas que constroem os dilemas morais e éticos que envolvem a trama.

Um fato que me marcou no filme foi a insistência dos personagens em afirmar que nada fizeram para receberem aquele "castigo". E essa é minha primeira reflexão: sim, muitas vezes a gente não tem controle sobre o que acontece, e nem dá pra ficar procurando explicação, mas muitas outras vezes é a gente que direciona nosso caminho. Com isso, espero que em 2011 sejamos mais consciente das nossas atitudes. Agir gentilmente, com carinho, atenção e respeito com os outros e com a gente mesmo quando for possível agir e também saber ficar em observação, silêncio e resguardo quando assim for o melhor a fazer.

Outro ponto interessante do filme é a frase algumas vezes dita em meio a sequência de acontecimentos tragicômicos : "Does it matter?" ou "Is it important?". E é isso. O que é que realmente tem valor nessa vida? Na nossa vida? O que realmente é importante pra vivermos bem, felizes e tranquilos? Que a gente saiba dar teto e prioridade aos nossos desejos. Que a gente gaste energia com o que realmente vale a pena. Que a gente saiba e sinta o que é importante pra gente.

Que 2011 seja um ano feliz.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

"sim, há que ser um pouco louca para se conseguir ser mãe"

A A.t está praticamente com 4 meses, e de uma semana para cá algumas coisas começaram a mudar. Nem tanto para melhor. Depois de alguns dias angustiada, hoje resolvi tomar uma atitude mais instintiva. Ainda não tenho os resultados, mas me sinto aliviada apenas por fazer mais uma tentativa. E estou segura. Quando li a artigo a seguir (copiei daqui), suspirei!

Outras leituras interessantes aqui e aqui.
Foto feita pelo papai.



A amamentação selvagem por Laura Gutman

A maioria das mães que nos procura fá-lo por motivos de dificuldade na amamentação e estão preocupadas em saber como se fazem as coisas correctamente, em vez de procurar o silêncio interior, as raízes profundas, os vestígios de feminilidade e um apoio no marido/companheiro, na família ou na comunidade que favoreçam o encontro com a sua essência pessoal.

A amamentação genuína é manifestação dos nossos aspectos mais terrenos, selvagens, filogenéticos. Para dar de mamar deveríamos passar quase todo o tempo nuas, sem largar a nossa cria, imersas num tempo fora do tempo, sem intelecto nem elaboração de pensamentos, sem necessidade de nos defendermos de nada nem de ninguém, mas apenas e unicamente desaparecidas num espaço imaginário e invisível para os outros.

Isto é dar de mamar. É deixar aflorar os nossos recantos ancestralmente esquecidos ou negados, os nossos instintos animais que surgem, sem imaginar que habitavam no nosso interior. É deixar-se levar pela surpresa de vermos lamber os nossos bebés, de cheirar a frescura do seu sangue, de alternar entre um corpo e o outro, de converter-se em corpo e fluido dançantes.

Dar de mamar é despojar-se das mentiras que contámos a nós mesmas toda a vida sobre quem somos ou quem deveríamos ser. É estar descontraídas, poderosas, famintas, como lobas, como leoas, como tigres, como canguruas, como gatas. Muito relacionadas com as outras mamíferas de outras espécies no seu total apego à cria, descuidando o resto da comunidade, mas milimetricamente atentas às necessidades do recém-nascido.

Deleitadas com o milagre, tratando de reconhecer que fomos nós mesmas que o fizémos possível, e reencontrarmo-nos com o que há de sublime. É uma experiência mística se premitirmos que assim seja.

Isto é tudo o que necessita para poder dar de mamar a um filho. Nem métodos, nem horários, nem conselhos, nem relógios, nem cursos. Mas sim apoio, contenção e confiança dos outros (marido, rede de mulheres, sociedade, âmbito social) para ser uma mesma mais que nunca. Apenas a permissão para ser o que queremos ser, fazer o que queremos, e deixarmo-nos levar pela loucura do selvajem.

Isto é possível se se comprender que a psicologia feminina inclui este profundo apego à terra-mãe, que ser una com a natureza é intrínseco ao ser esencial da mulher, e que se este aspecto não se revela, a amamentação simplemente não fluie. Não somos assim tão diferentes dos rios, dos vulcões, dos bosques. Só é necessário preservá-los de ataques.

As mulheres que desejam amamentar têm o desafio de não se afastarem desmedidamente dos seus instintos selvagens. Sabemos racicionar, ler livros de puericultura e desta maneira perdemos o objectivo entre tantos conselhos supostamente “professionais”.

Há uma ideia que atravessa e desactiva a animalidade da amamentação, e é a insistência para que a mãe se separe do corpo do bebé. Contrariamente ao que se supõe, o bebé deveria ser carregado pela mãe todo o tempo, incluindo e sobretudo quando dorme. A separação física a que nos submetemos como díade entorpece a fluidez da amamentação. Os bebés ocidentais dormem no berço, no carrinho ou nas suas camas demasiadas horas. Esta conduta é simplesmente um atentado à amamentação. Porque dar de mamar é uma actividade corporal e energética constante. É como um rio que não pode parar de fluir: se é bloqueado, o seu caudal é desviado.

Dar de mamar é ter o bebé nos nossos braços, sempre que seja possível. É corpo, é silêncio, é conexão com o sub mundo invisível, é fusão emocional, é loucura.

Sim, há que ser um pouco louca para se conseguir ser mãe.

Laura Gutman
Autora Argentina de “La Maternidad y el encuentro con la propia sombra”, “Puerperios y exploraciones del alma femenina” e “Crianza, violencias invisibles y adicciones”.
Tradução e adaptação de Luísa Condeço, autorizado pela autora.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

no caminho do bem

Sábado batizamos a A.t. Como disse o querido padre de 88 anos: "não tem nada a ver com pecado, e sim com o compromisso de manter a criança no caminho do bem". Que assim seja.

(fiz questão de pedir ao Salsa que registrasse a A.t. com o sapatinho que ganhou de presente da titia-vovó, ou madrinhavó, Walquíria)