sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

domingo, 6 de fevereiro de 2011

a foto que não foi registrada

(foto)

Estávamos na praia, curtindo o sol, o sal, uns aos outros.

O hotel foi escolhido para proporcionar dias de diversão, tranquilidade e conforto para todos, de nenên à vovô. Como todo resort, a programação para a criançada era de tirar o fôlego, literalmente. Tenho minhas críticas à isto, mesmo porque eu acho que o bom mesmo era quando a gente se divertia à nossa própria vontade, com nossa imaginação e nossas "regras". Agora, até nas férias, tem gente pra "orientar" as crianças sobre o fazer... bem, ...foi uma experiência.

Seguindo a programação do "clubinho", um dia fui acompanhar a M. numa brincadeira na praia, à beira do rio. Enquanto os monitores se esforçavam para atrair a atenção de uns vinte meninos entre 4 e 8 anos sob o sol escaldante da Bahia, em pleno meio dia (!), meu olhar foi atraído para outros dois meninos que por ali estavam. Na hora pensei na oportunidade perdida de fazer uma bela fotografia, mas a máquina estava longe. Embora na mesma margem do rio, eles estavam muito, muito distantes da realidade daquela criançada. Acho que tinham por volta de 10 anos de idade e carregavam redes de pesca. Entre uma olhada e outra de canto de olho para a turma de meninos de pele clara (ainda que queimada pelo sol), com roupas de banho de grife e protegidos com bloqueadores solares caros e importandos, eles miravam com atenção através da água límpida e com cuidado e destreza, lançavam suas redes ao rio.
Eram negros, magros, esguios, com poucos, mas bem definidos, músculos exercitados pela lida diária e pelas brincadeiras que dispensam monitores e que toda criança ainda deveria saber e gostar de fazer: simplesmente correr, nadar e pular.

Após sucessivas puxadas de rede vazia, arrisquei puxar conversar e perguntei se as crianças estavam espantando os peixes deles. A resposta, com olhar baixo, quase antes de eu terminar a pergunta foi: "Não senhora!" E saíram do rio, carregando suas redes para outro lugar, sem olhar para trás.

Tentei decifrar o olhar deles e não consegui ver se havia algum tipo de admiração ou vontade de brincar com as outras crianças, ou outro sentimento como curiosidade, indignação, inveja, raiva, sei lá... talvez porque o olhar deles reflita a anestesia que precisam para seguir adiante com tantas limitações. Talvez, o mais provável, que seja o meu próprio olhar, cheio de ego e conceitos formatados que me torne incapaz de ver.

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